domingo, 24 de outubro de 2010

Eles Não Usam Black-Tie



Iniciamos há algumas semanas, a montagem da peça "Eles não usam Black - Tie", de Gianfrancesco Garnieri. Achei interessante, então, colocar aqui algumas informações sobre a peça, o autor, o movimento social em questão e sobre o Teatro de Arena... a nível de curiosidade e também de estudo, para aprofundamento do texto.
Segue:

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Eles não usam black-tie, de Gianfrancesco Guarnieri

Primeira peça de Gianfrancesco Guarnieri, Eles não usam black-tie, de 1958, foi encenada pela primeira vez quando o movimento Cinema Novo começava a surgir e a convocar a arte ao neo-realismo. No lugar de cenários pomposos e figurinos luxuosos, ficaram apenas os elementos de cena indispensáveis. Ao invés de personagens ricos e nobres, operários e moradores do morro tomaram o palco. Ali, em plenos anos 50, negros eram cidadãos comuns. Pela primeira vez, os conflitos da realidade brasileira ganhavam espaço na caixa cênica.

Eles não usam black-tie situa-se numa favela, nos anos 50, e tem como tema a greve, e ao lado da greve a peça tem como pano de fundo um debate sobre as grandes verdades eternas, reflexões universais sobre a frágil condição humana, sobre os homens e seus conflitos. É a história de um choque entre pai e filho com posições ideológicas e morais completamente opostas e divergentes, o que, por sinal, dá a tônica dramática ao texto.

O pai, Otávio, é operário de carreira, um sonhador, um idealista, leitor de autores socialistas e, ao mesmo tempo um revolucionário por convicção e consciente de suas lutas. Forte e corajoso entre os seus companheiros, experimentou várias lideranças, algumas prisões, com isso ganha destaque entre os seus transformando-se num dos cabeças do movimento grevista.

O filho, Tião, em razão das prisões do pai grevista, é criado praticamente, na cidade, longe do morro, com os padrinhos, sem conviver com esse mundo de luta e reivindicação da classe operária. Hoje adulto e morando no morro com os pais, vive um dos maiores conflitos de sua vida. Em primeiro lugar não quer aderir à greve, pois acha que essa é uma luta inglória, sem maiores resultados para a classe. Em segundo lugar pretende se casar com Maria, moça simples, porém determinada e leal ao seu povo, e está esperando um filho seu. Desta forma, Tião está mais preocupado com o seu futuro do que com a luta de seus companheiros, que sonham com melhores salários. Para Tião, greve é algo utópico. Ele não tem tempo para esperar, precisa resolver seus problemas de imediato, ou seja, se casar.

É preciso esclarecer que Tiäo, ao contrário de seu amigo Jesuíno, malandro, fraco e oportunista, é um jovem corajoso, mesmo porque fura a greve sem medo dos companheiros, achando que está agindo corretamente. Por essa atitude, acaba perdendo a amizade de todos de seu grupo, restando apenas um colega da fábrica e João, irmão de Maria, um homem ponderado e maduro capaz de compreender a situação conflitante vivida pelo amigo Tião e ainda apoiar sua irmã neste momento difícil.

Na realidade, Tião não tem medo do confronto com o inimigo. O seu medo é outro, é o grande medo de toda a sociedade, o medo de ser pobre, por isso quer subir na vida e deixar para trás a condição difícil e miserável do morro, que, por sinal, é desafiada cotidianamente pela coragem e bravura de Romana, sua mãe, mulher de pulso e determinação e responsável pelo equilíbrio da casa e da família.

Eles não usam black-tie é um texto político e social, sempre atual no qual Gianfracesco Guarnieri criou de um lado, personagens marcantes e populares como Terezinha, Chiquinho, Dalvinha e Jesuíno que nos revelam um mundo alegre, descontraído e aparentemente feliz. Já por outro lado a peça se apresenta forte e densa revelando de maneira real os conflitos que atormentam personagens como Otávio, Romana, Tião, Maria e Bráulio. São tais encontros e são esses momentos alegres e comoventes , que nos provocam o riso e a dor, alegria e tristeza. Assim, se por um lado mostra um olhar profundo dentro da sociedade brasileira, por outro esse olhar vem embalado por um valor poético materializado na visão romântica do mundo de seus personagens.

Embora, na convencional teoria de dramaturgia teatral não se enquadre essa abordagem, o drama social é de natureza épica e por isso mesmo uma contradição em si mesma. Aqui, novamente Guarnieri quebrou também outra regra essencial, presente nos manuais do "bom drama": ao invés de trazer personagens "superiores" como protagonistas, ele se utilizou de gente humilde, trabalhadores comuns, para conduzir sua história. Mesmo as mais simples metáforas, foram pinçadas nos mais básicos valores de nossa cultura popular, como por exemplo, na metáfora do amor, o feijão, prato massivo na América do Sul, teria um "coração de mãe".

A temática não é política, muito menos panfletária. O que discorre são relações de amor, solidariedade e esperança diante dos percalços de uma vida miserável. Assim, a peça alia temas como greve e vida operária com preocupações e reflexões universais do ser humano. Sob o olhar de Karl Marx, em um retrato iluminado por um feixe de luz na parede do cenário, o debate entre a coletividade e o individualismo, simultaneamente cru e sensível, vai crescendo.

Eles não usam black-tie é um marco do teatro de temática social.

Foi com a encenação de Eles não usam black-tie, que se iniciou uma produção sistemática e crítica de textos dispostos a representar as classes subalternas, com ênfase para a representação do proletariado. Nesse sentido, a peça de Guarnieri insere-se num quadro que se ampliou a partir da década de 1950, quando surgiu uma dramaturgia com preocupações ligadas à representação de uma camada específica da sociedade brasileira e, para além disso, em busca da construção de uma identidade nacional pautada em variedades culturais internas.


Histórico

Espetáculo que inicia a fase nacionalista do Teatro de Arena e lança o autor Gianfrancesco Guarnieri, que serve de modelo e estimulo para outros jovens escritores dramáticos brasileiros.

Em 1957, José Renato resolve assumir a produção de O Cruzeiro Lá no Alto, texto de Gianfrancesco Guarnieri, prevista para ser a última montagem do grupo, que passa por graves dificuldades financeiras.

Rebatizada, por sugestão de José Renato, como Eles Não Usam Black-Tie, provocativa referência ao Teatro Brasileiro de Comédia - TBC, e a seu público.

Eugênio Kusnet, com sua larga experiência no método de Stanislavski, encarna o velho Otávio; Lélia Abramo, politizada intelectual vinda de experiências junto a grupos operários anarquistas, vive a mãe Romana; Miriam Mehler, recém-formada pela Escola de Arte Dramática - EAD, encarrega-se de Maria, amor de Tião, interpretado pelo melhor ator do Arena no período - Gianfrancesco Guarnieri, depois substituído por Oduvaldo Vianna Filho. Os outros papéis cabem a Flávio Migliaccio, Riva Nimitz, Chico de Assis e Milton Gonçalves.

Êxito surpreendente para quem pensava em fechar as portas, Black-Tie permanece um ano em cartaz, cumprindo posteriormente bem-sucedida carreira no interior de São Paulo e no Rio de Janeiro. Animado pelo sucesso, o Arena investe forças na criação de outros textos nacionais, instituindo o Seminário de Dramaturgia, de onde sairão os textos para as montagens seguintes, que respondiam à necessidade do público de ver nos palcos a realidade nacional. Até 1960, foram montados, entre outros: Chapetuba Futebol Clube, de Oduvaldo Vianna Filho; Quarto de Empregada, de Roberto Freire; Fogo Frio, de Benedito Ruy Barbosa.

Eles Não Usam Black-Tie é a primeira de muitas outras encenações que colocam o Teatro de Arena como o conjunto de maior representatividade em São Paulo até meados da década de 1960.


SOBRE O AUTOR

Gianfrancesco Sigfrido Benedetto Marinenghi de Guarnieri (Milão, Itália 1934 - São Paulo SP 2006). Autor e ator. Nome de proa nos anos 1960 e 1970, ao lançar textos voltados à realidade nacional e discutindo, com densidade dramática, problemas sociopolíticos de impacto. Eles Não Usam Black-Tie, escrito por ele, abre o período da fase nacionalista do Teatro de Arena, do qual é integrante. Como ator, e eventualmente diretor, distingue-se pela busca de uma expressividade brasileira nas caracterizações.

Filho de imigrantes, chega ao Brasil com dois anos, vivendo no Rio de Janeiro. Muda-se para São Paulo em 1954 e como ator integra, a partir do ano seguinte, o Teatro Paulista do Estudante, grupo amador que se funde com o Teatro de Arena em 1956. Ali, nos elencos de Escola de Maridos e Dias Felizes, sob a direção de José Renato, em 1956; e Ratos e Homens, dirigido por Augusto Boal, em 1957, projeta-se como intérprete e ganha espaço no grupo.

No ano seguinte, o Arena encontra-se em crise e pensa em fechar as portas. Para fazê-lo, resolve encenar um texto de Guarnieri - Eles Não Usam Black-Tie - que, contrariando todas as expectativas, salva o conjunto da bancarrota e impõe-se como o primeiro texto nacional a abordar a vida de operários em greve. Inicia-se, desse modo, a construção que faz o autor de um panorama sobre a vida operária, continuado em Gimba, produzido pelo Teatro Maria Della Costa - TMDC, que revela o talento de Flávio Rangel, em 1959; e A Semente, levada à cena pelo mesmo diretor no Teatro Brasileiro de Comédia - TBC, em 1961. Gimba coloca em cena o morro carioca e a dura sobrevivência das populações marginalizadas; enquanto que A Semente enfoca, em modo desabrido, a organização do Partido Comunista e a atuação de uma de suas células num momento de greve operária.

Esses textos ostentam, pela temática e proposições estéticas, vínculos com o realismo socialista; possuindo o mérito de deslocar o olhar cênico para as camadas populares, seus problemas e contradições próprias, sem a óptica paternalista tradicional.

O Filho do Cão, de 1964, é ambientado no Nordeste, tentativa de fundir os mitos regionais com a exposição realista da miséria em que vive a população. O texto é montado dentro do Teatro de Arena, com direção de Paulo José, recebendo reparos por parte da crítica. Uma experiência bem diversa ocorre em 1965, como uma resposta ao golpe militar do ano anterior: para estruturar um espetáculo em torno da saga de Ganga Zumba, o herói negro dos Palmares, Guarnieri, Augusto Boal e Edu Lobo enveredam pelo modelo de um seminário histórico, o que possibilita a inclusão de um narrador contemporâneo que interliga e comenta os episódios representados, estabelecendo outro patamar de comunicação com a platéia. Tais técnicas, de cunho marcadamente brechtiano, dão forma ao sistema coringa, um modelo de espetáculo musical cujo primeiro fruto é Arena Conta Zumbi, em 1965. Dois anos depois, surge Arena Conta Tiradentes, um aprimoramento do sistema que destaca o protomártir da Independência como herói. Dois sucessos que promovem o Arena à condição de liderança junto ao teatro de resistência.

A peça curta Animália, de 1968, é escrita para integrar a Primeira Feira Paulista de Opinião, dirigida por Boal e montada no Teatro Ruth Escobar. Após seu desligamento do Arena, Guarnieri aceita uma encomenda de Fernanda Montenegro e escreve Marta Saré, saga musicada de uma prostituta nordestina que faz fama e fortuna no Rio de Janeiro, em 1968, realização apenas discreta. Um novo musical, Castro Alves Pede Passagem, de 1971, ambienta num programa de televisão passagens significativas da vida do poeta romântico, num bem logrado jogo metalingüístico, que lhe rende os prêmios Associação Paulista de Críticos Teatrais - APCT, e Molière de melhor autor. Sob sua direção, a montagem marca o início de uma colaboração com a Othon Bastos Produções Artísticas, que, sucessivamente, encena outros textos seus.

Botequim, dirigido por Antônio Pedro Borges, no Rio de Janeiro, e Um Grito Parado no Ar, outra colaboração com Othon Bastos e Martha Overbeck, agora com direção de Fernando Peixoto, ambos de 1972, evidenciam a forte censura imperante no auge da ditadura militar, e são por ele classificados como "teatro de ocasião". Em Botequim, os freqüentadores de um bar são impedidos de sair, em função da tempestade que cai lá fora; enquanto que Um Grito Parado no Ar é centrado sobre as frustradas tentativas de um grupo teatral de levar a termo sua realização, oferecendo através de metáforas um retrato da situação de isolamento a que foi confinada a sociedade brasileira. Esse último garante a ele os prêmios de melhor autor da Associação Paulista dos Críticos de Artes - APCA, o Molière e Governador do Estado. Basta!, da mesma época, é interditada pela Censura e impedida de entrar em cena.

Em 1976 Guarnieri volta à alegoria, criando Ponto de Partida, mais uma montagem pela companhia de Othon Bastos, em encenação de Fernando Peixoto. O próprio autor desempenha um pastor de cabras, em sensível composição. Numa hipotética aldeia medieval um poeta surge enforcado, sem que ninguém saiba o motivo; o que motiva as conjecturas das diversas figuras cênicas, desde uma camponesa até os mandatários locais. A alusão à morte do jornalista Wladimir Herzog, assassinado no ano anterior pelos órgãos de segurança, é bastante evidente, e Guarnieri arrebata os prêmios Molière, Governador do Estado, Mambembe e APCA de melhor texto.

Após longo afastamento dos palcos, exercendo outras atividades, inclusive como Secretário de Cultura da Prefeitura, o autor volta em 1988 com Pegando Fogo...Lá Fora, texto que não alcança a mesma densidade dos anteriores.

Em sua carreira de ator, Guarnieri acumula sucessos e prêmios, distinguindo-se, no Teatro de Arena, na composição de algumas personagens de grande expressividade, tais como em Ratos e Homens, de John Steinbeck, em 1957; como o jovem Tião, de seu próprio texto Eles Não Usam Black-Tie, em 1958, em que é premiado como autor revelação; O Filho do Cão, em 1964; A Mandrágora, de Maquiavel, em 1962; Tartufo, de Molière, em 1964; O Inspetor Geral, de Nikolai Gogol, em que é dirigido por Boal, em 1966; o Coringa de Arena Conta Tiradentes, em 1967; o protagonista de A Resistível Ascensão de Arturo Ui, de Bertolt Brecht, em 1968.

Também ator de cinema e televisão, acumula nesses veículos grandes interpretações. Pelo sensível acorde dramático alcançado como Otávio, o pai de Eles Não Usam Black-Tie, na versão cinematográfica de Leon Hirszman, em 1982, recebe inúmeros prêmios.




Fontes:
http://www.itaucultural.org.br/aplicexternas/enciclopedia_teatro/
www.passeiweb.com/.../eles_nao_usam_black_tie

domingo, 3 de outubro de 2010

Peculiaridades


Toda turma tem lá suas peculiaridades... a nossa tem MUITAS!
Nossa turma é peculiar a começar pelas diferenças de idade, de personalidade, de desejos. Nossa turma tem gente prá todos os gostos!rs
Peculiar também nas manias... que são várias!
Porque nós nos incomodamos com gente de sapato no chão de madeira.
Porque nós mandamos bilhetinho embaixo da porta.
Porque nós cantamos o "hada hada"
Porque concordamos que a bolacha de aveia e mel é a melhor do mundo
Porque todo mundo vai de roxo e sempre coinscide de ser no mesmo dia!
Porque temos algumas tendências sadomasoquistas!
Porque a gente "não se engana"
Porque temos um gambá de estimação
Porque nosso gambá é na verdade um invasor de terras indígenas (né!?!? ¬¬')
Porque a gente brinca na aula de psicologia e a Adelita é café com leite!
Porque na nossa sala tem mais hetero que homo! O.o
Porque os homens da nossa sala são muito bem resolvidos (heteros ou não!)
E as mulheres todas têm uma vida amorosa problemática (solteiras ou não!rs)
Porque conseguimos construir alguns valores diferentes dos da maioria
Porque 99,9 % da sala não é de Ribeirão Preto
Pelos n combinados, pelas cirandas, pelas musiquinhas, pelas diferenças que nos igualam, pelas risadas, pelos momentos difíceis de perda, pelas piadas internas (que são inúmeras), por ser apenas o primeiro ano, por ainda termos mais 4 anos pela frente....
Porque somos a 11ª turma!
Evoé, axé, inté!