quinta-feira, 22 de abril de 2010

Sobre ser ator...



Por Verônica Borges - texto de Antônio Calloni


"Ser ator é realmente uma profissão de maluco, fascinante. A poética do ridículo, o brincar de faz de conta, o infindável universo onírico infantil e a tremenda cara de pau fazem com que os atores encantem - pelo seu poder de transgressão, pela sedução, pelo poder de conscientização, pela capacidade de simplesmente entreter e pela mágica de poder ser quase todo mundo - aos que os assistem e sonham junto com eles.

Lemos Diderot, Stanislavsky, Grotovsky, Maierhold, D. T. Suzuki e uma infinidade de outros livros (todos fundamentais). Ouvimos muita música clássica para apurarmos nossa noção de ritmo, de cor, de intensidade. Ouvimos samba, pagode, MPB, música sertaneja e o diabo a quatro, graças ao bom Deus. Graças a obrigatória falta de preconceito para ver e viver a vida como ela é (obrigado, grande Nelson!) e poder reproduzi-la, e, melhor ainda, recriá-la como uma pintura, que quase sempre é mais rica do que uma foto. Vemos (com o corpo inteiro) pinturas de Bosch, Goya, Velásquez, Max Ernst, para tentar compreender alguns mistérios da vida, para provocar nossos sonhos, ou, para nada. Só para ver mesmo. Que bom!
Conversamos com o Zé que vende coco no quiosque da praia e notamos um gesto diferente, um ritmo novo, outras possibilidades de comportamento e de comunhão com a vida. Observamos sem pensar. Viva o Zé! Precisamos dele. E depois colocamos uma armadura e dizermos que somos cavaleiros da Távora Redonda, dizemos que somos bons, que somos maus, que somos bons e maus, que somos gente. É uma profissão que deveria se iniciar logo que a pessoa começasse a falar e a ler, e terminar no início da adolescência, já que os adolescentes têm verdadeiro horror a pagar mico. Mas não, o maravilhoso complexo de Peter Pan nos acompanha pelo resto da vida e passamos a nos comportar como crianças relativamente adultas. E aí entra a poética do tempo que estará sempre a nosso favor.

Fazer um bom trabalho de ator é sempre muito arriscado, mesmo que o personagem seja comum, simples, cotidiano. É mais arriscado ainda. É raro, mas acontece de ver um ator dizendo que está arriscando quando na verdade está fazendo um trabalho histérico e fora da medida. No caso de uma novela, geralmente as pessoas se acostumam e até passam a gostar. O erro faz parte do show, eliminá-lo é impossível, diminuir a margem de erro através do estudo, dedicação, e, principalmente, leveza e bom humor, talvez seja o melhor caminho. Cada um escolhe o seu.

É uma profissão generosa, democrática e acolhedora. Qualquer um pode ser ator, basta saber falar, andar, ler e ter o juízo mais ou menos perfeito. Todos têm direito a tentativa e ninguém tira o lugar de ninguém. Fazer um bom trabalho de ator, permanecer digno praticando o ofício já são outros quinhentos, não é para qualquer um. A consciência de que somos inevitavelmente precários por sermos humanos pode ser um grande estímulo para fazermos trabalhos grandiosos. Viramos heróis, mendigos e uma infinidade de outros
personagens para, entre outras coisas, vencer a morte (êta coisinha incômoda). E, no final, conseguimos rir de nós mesmos.

Quero, por fim, agradecer aos meus nobres e loucos companheiros atores por percorrerem esse caminho inventado e que aumenta a vida, o prazer e o sonho. Quero agradecer aos grandes atores que já superaram o estágio dos adjetivos e conquistaram a liberdade plena da criação. Qual o adjetivo para Fernanda Montenegro, para Laura Cardoso? Quero agradecer também aos que estão começando, aos que estão terminando (se é que isso é possível) e aos que estão por vir.

Sou ator, acho que isso quer dizer alguma coisa.

Evoé!
Antonio Calloni. "

quarta-feira, 7 de abril de 2010

Prá ser ator tem que ser louco...

Por Lucas Fagundes.

Vivo perguntando a mim mesmo... será que é estranho ser ator? Não que eu ache isso, mas é engraçado, pois quando as pessoas perguntam uma para a outra qual o curso que ela faz, existe sempre uma excitação "nossa, você faz jornalismo? que legal!". Bem diferente do que acontece comigo "Ah, você faz Artes Cênicas? O que é isso mesmo? Ah teatro!... mas o que vocês fazem em aula?" E esta é a pior parte, pois quando falo que fiz um exercício de exaustão, ou que mastiguei um som, ou que guiamos nosso colega como se ele fosse um carro; eu vejo as pessoas com um olhar que já diz tudo: "Nossa! Que doente meltal!" Outro dia um amigo, que vem no mesmo ônibus que eu para a faculdade, comentou que iria ter prova... eu disse que também teria e ele me perguntou "Como é a prova de vocês? Já sei! Tem que fazer careta e se tiver certo tira 10?".
Parece engraçado, mas esse tipo de preconceito é real. As pessoas desvalorizam o teatro e os profissionais da área, sem levar em conta o quanto cada ator trabalhou e estudou para ter aquela formação profissional.... ele também estudou Freud, Vigotsky, Aristóteles, Sócrates, e muito mais...
O respeito pela escolha profissional do outro é importante... e, afinal, cada pessoa faz aquilo que lhe traz felicidade! Confesso que não conseguiria ficar horas dentro de um laboratório fazendo pesquisas gigantescas e revolucionárias... da mesma maneira que um cientista não teria coragem de subir num palco e encarar o público com o objetivo de levar a eles uma alegria gigantesca e revolucionária!
Talvez seja esse preconceito um dos responsáveis pelo baixo nível de cultura do brasileiro, e pela falta de incentivo e apoio à arte no nosso país.
A nossa profissão tem uma vantagem sobre todas as outras: "nós podemos ser o que quisermos e na hora em que der vontade!".... Tudo bem que não vou conseguir ser um jornalista, advogado, ou químico de verdade... mas através da minha imaginação e do poder de criação que o teatro propõe, consigo, por que não?, explorar um pouquinho de cada área, ampliando meu conhecimento, e aprendendo a respeitar qualquer profissão.
Ah! Já sei o que você deve estar pensando, e te respondo já... "Sim, para ser ator tem que ser louco sim!".

(Lucas)